Skills 4 pós-Covid – Competências para o futuro
Uma iniciativa promovida com a Direção Geral do Ensino Superior, DGES, em articulação com as instituições de ensino superior e empregadores públicos e privados
1. Introdução: o contexto
A nova fase da situação de pandemia que se vive em Portugal e no mundo exige que as instituições de ensino superior deem continuidade à responsabilidade social que têm assumido e comecem, desde já, a preparar respostas aos desafios colocados por esta pandemia no contexto académico, social e económico, a nível nacional e internacional.
Num plano mais imediato e num contexto em que os condicionalismos existentes nos últimos meses estimularam novas práticas e abordagens de ensino e aprendizagem, é importante consolidar as experiências positivas que vem tendo lugar, a conjugar agora com o aprofundamento de iniciativas de inovação pedagógica.
Em particular, importa estimular práticas inovadoras de ensino e aprendizagem valorizadoras dos projetos educativos, adaptadas a um sistema de ensino misto e diferenciado, apostando na diversificação das metodologias pedagógicas, em particular as metodologias ativas, alargando e aprofundando formas de aprender e ensinar baseadas em projeto, intensificando formas de autoaprendizagem e trabalho em equipa, sempre de forma inclusiva e não discriminatória, e adaptando as horas de contato com estudantes, reconfigurando, dentro dos limites legais, as cargas letivas existentes.
Por outro lado, a dinamização de atividades de aperfeiçoamento e reconversão de competências (i.e., “up-skilling” e “re-skilling”, respetivamente) deverão ser fomentadas, garantindo que a oferta educativa seja adaptada aos diferentes segmentos, em particular aos estratos etários de adultos mais jovens (23-35 anos idade), que poderão ter dificuldades acrescidas na inserção ou reinserção no mercado laboral no atual contexto social e económico, e a franja substancial da população entre 35-55 anos de idade que, em resultado das dificuldades de retoma da normalidade das atividades sociais e económicas, poderá neste período razões adicionais para investir nas suas competências ou na reorientação da sua carreira profissional.
Por exemplo, as micro credenciais, em discussão crescente no contexto europeu, constituem uma solução formativa, dinâmica, interdisciplinar e que confere formação académica, promovendo, também, formação e enriquecimento curricular para o mercado de trabalho, atestando competências adquiridas. Permitem uma construção progressiva de um percurso académico e profissional, realizando unidades curriculares ou módulos, que vão sendo ajustados às necessidades e que correspondem a mini certificações de competências adquiridas (e.g., resolução de problemas, competências linguísticas, digitais, estratégia) num determinado tópico, ao qual correspondem um conjunto de atividades, créditos e horas.
Num horizonte mais lato, com dimensão estrutural, deverá ser preparado durante os próximos meses o papel do sistema de ensino superior na transição para o período pós- COVID-19. Com efeito, entre os seus desígnios, destaca-se a responsabilidade que as instituições de ensino superior têm na capacitação dos diplomados, contribuindo para uma inserção ou reinserção bem-sucedida nos mercados de trabalho. Nesta fase de transição que acelera a polarização das economias pela inovação e pelo conhecimento, com especial enfoque na digitalização, esta missão torna-se ainda mais relevante. Trata-se de capacitar os estudantes não só com competências científicas, técnicas ou profissionais, específicas dos cursos e unidades curriculares lecionadas, mas também dotá-los de um conjunto de competências transversais, cognitivas, sociais e emocionais, cada vez mais valorizadas num mercado de trabalho que premeia a capacidade de adaptação e a capacidade de responder face a situações de grande incerteza.
Neste contexto, urge aprofundar a relação entre os sistemas de ciência e ensino superior e as principais atividades empregadoras a nível nacional e regional, envolvendo a busca de soluções conjuntas que permitam potenciar a relevância das competências adquiridas e o sucesso dos diplomados no mercado de trabalho, assim como novos arranjos colaborativos orientados pelo conhecimento científico.
A mobilização de atores críticos na produção e difusão do conhecimento científico e tecnológico com entidades públicas e empresariais no âmbito da atual pandemia, procurando, por exemplo, encontrar formas inovadoras de responder às necessidades em termos de diagnósticos, terapias e vacinas, assim como novos equipamentos e sistemas de proteção individual, tem sido um exemplo particularmente revelador das potencialidades deste envolvimento.
2. Objetivos
Neste contexto, a iniciativa “Skills 4 pós-Covid – Competências para o futuro” tem por objetivo reforçar e valorizar a resposta conjunta dos sistemas de ciência e ensino superior aos desafios induzidos pela Covid-19 em estreita articulação com empregadores públicos e privados, designadamente:
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Identificar os principais constrangimentos, desafios e oportunidades que a pandemia Covid-19 introduz e/ou aprofunda nas atividades de ensino superior e na sua relação com a ciência e os mercados de trabalho, públicos e privados;
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Antecipar o papel que as Instituições de Ensino Superior terão no período pós Covid-19, avaliando não só as transformações socioeconómicas em curso, em particular no que diz respeito à natureza das competências procuradas, mas também como é que o sistema de ensino superior pode influenciar este processo de transição;
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Identificar e fomentar novas abordagens nos mais diversos níveis de funcionamento e organização das instituições de ensino superior, que permitam capacitar a resposta aos desafios introduzidos pela Covid-19. Incluem soluções inovadoras a nível institucional, de forma colaborativa e em rede, estimulando arranjos colaborativos e consórcios de formação avançada, investigação e inovação, envolvendo instituições de ensino superior com empregadores públicos e privados e/ou outras entidades publicas ou privadas.
3. Âmbito
Com esta iniciativa pretende-se, em termos concretos, apoiar as Instituições de Ensino Superior a enfrentar os desafios induzidos pela Covid-19 e reforçar a sua resposta às oportunidades de valorizar o conhecimento científico e às necessidades do mercado trabalho. As iniciativas a desenvolver no âmbito deste programa deverão:
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Responder tanto aos desafios imediatos do novo ano letivo como às questões estruturais que a preparação do pós-Covid levanta;
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Envolver os principais atores em compromissos virtuosos, a nível internacional, nacional e local, que permitam potenciar sinergias;
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Empregar melhor, respondendo às necessidades específicas de diferentes segmentos de população alvo, desde os jovens recém-licenciados (23-35 anos de idade), aos profissionais à procura de formação complementar (35-55 anos de idade);
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Fomentar a diversificação e especialização da oferta de ensino, conciliando a oferta de cursos e a introdução de práticas inovadoras de ensino e aprendizagem com as competências requeridas pelo mercado de trabalho;
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Alargar a base social do ensino superior, reforçando o desígnio de aumentar a qualificação formal da população portuguesa e, em particular, a participação de jovens de 20 anos no ensino superior dos atuais cerca de 50% para 60% até 2030.
O arranque desta iniciativa, mais focada nas componentes de diagnóstico, será concretizado a partir dos resultados do projeto “Evolução da procura empresarial e necessidades de qualificação do capital humano”, promovido pela DGES em parceria com a EY-Augusto Mateus desde meados de 2019, assim como em articulação com o programa “Labour Market Relevance and Outcomes – LMRO”, desenvolvida em conjunto pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e pela Direção-Geral da Educação, da Juventude, do Desporto e da Cultura. Neste âmbito, Portugal colaborará com um conjunto de equipas de outros três países europeus (Áustria, Eslovénia e Hungria), orientando o programa para as exigências extraordinárias que a atual crise exige.
É esperado que a participação neste programa, além de contribuir para os objetivos da iniciativa “Skills 4 pós-Covid - Competências para o futuro”, tenha como mais- valia as múltiplas sessões de peer-learning a desenvolver ao longo do projeto. Estas atividades cujo objetivo principal passa por estimular o diálogo e a partilha de boas práticas entre responsáveis de instituições de ensino superior a nível nacional e internacional, permitindo dar escala a eventuais projetos inovadores, constituirão também oportunidade para desenvolver e consolidar redes de parcerias institucionais a nível europeu.
4. Principais resultados esperados
Com a iniciativa “Skills 4 pós-Covid – Competências para o futuro” pretende-se ainda estimular a resposta conjunta dos sistemas de ciência e ensino superior aos seguintes desafios:
A partir do ano letivo 2020/21:
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Estimular a experimentação e disseminação de práticas inovadoras de ensino e aprendizagem adaptadas a um sistema de ensino misto e diferenciado em todos os níveis de ensino superior (i.e., formações curtas; licenciatura, mestrado e doutoramento), alargando e aprofundando formas de aprender e ensinar baseadas em projeto, a integração de formas de autoaprendizagem e trabalho em equipa, sempre de forma inclusiva e não discriminatória, e adaptando as horas de contato com estudantes, reconfigurando, dentro dos limites legais, as cargas letivas existentes;
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Fomentar o desenvolvimento de formações pós-graduadas de âmbito profissional, em estreita colaboração com empregadores, públicos e privados, fomentando a diversificação e especialização da oferta de ensino;
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Aprofundar as dinâmicas conseguidas nos últimos anos com formações curtas de âmbito superior no sistema politécnico (i.e., cTESPs – cursos técnicos superiores profissionais), alargando o seu âmbito para adultos ativos e reforçando a colaboração com empregadores, públicos e privados;
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Estabelecer novas formas de ingresso e participação no ensino superior de estudantes que complementem o ensino secundário por vias profissionais e artísticas, alargando a base social do ensino superior;
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Estimular formações curtas e modulares de âmbito superior como micro-credenciais, que promovam a aprendizagem contínua e a aquisição de novas competências, designadamente no contexto europeu;
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Fomentar a atracão de estudantes internacionais, providenciando condições “COVID free” nas instituições de ensino superior.
A partir do ano letivo 2021/22:
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Adoção de novos ciclos de estudo, substituindo os atuais mestrados integrados nas áreas de engenharia e psicologia por novos cursos de 1º e 2 ciclos que estimulem práticas inovadoras de ensino e aprendizagem;
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Reforço generalizado de práticas inovadoras de ensino e aprendizagem em todos os níveis de ensino superior (i.e., formações curtas; licenciatura, mestrado e doutoramento), continuando a reconfigurar, dentro dos limites legais, as cargas letivas existentes;
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Reforço generalizado de formações pós-graduadas de âmbito profissional, em estreita colaboração com empregadores, públicos e privados, fomentando a diversificação e especialização da oferta de ensino;
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Reforço das micro-credenciais para formações curtas e modulares de âmbito superior.
5. Calendarização prevista das ações
A iniciativa “Skills 4 pós-Covid - Competências para o futuro” no conjunto das diversas ações a desenvolver decorrerá até ao final de 2021. A primeira fase de preparação envolverá as seguintes sessões:
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Entrevistas individuais – de 12 maio a 15 de junho: Auscultação por videoconferência de um conjunto diversificado destakeholders, lideradas por especialistas da OCDE.
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Desenvolvimento das linhas de ação “Skills 4 pós-Covid” – a partir de junho: Sessões por convite nas instituições do ensino superior, envolvendo docentes, empregadores, públicos e privados, e estudantes do ecossistema envolvente.
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Balanço intercalar da iniciativa “Skills 4 pós-Covid” – 7 e 8 de setembro: Sessão de balanço em que serão apresentados os primeiros resultados da iniciativa e discutidas as atividades seguintes (Convento da Arrábida)
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2ª Fase do Projeto – a partir de setembro 2020: Visitas ao terreno e atividades de peer learning nacionais e internacionais, envolvendo instituições dos países participantes