1. Dra. Joana é formada em Medicina, no entanto tem um percurso em organismos internacionais. Fale-nos um pouco da sua experiência.
A minha carreira internacional teve principalmente duas componentes, uma como líder de um grande projeto europeu financiado pela Comissão Europeia durante cinco anos; e outra como gestora de projetos e, nos últimos anos, gestora de setor no Banco Mundial, onde trabalhei cerca de 20 anos, nos primeiros dez anos na Europa e Asia Central, e na segunda década na América Latina e Caraíbas. A especialidade em Saúde Publica, conhecimentos e experiência em gestão de projetos e de equipas, e falar e escrever em varias línguas contribuíram muito para eu desenvolver uma carreira internacional. Também foi essencial para a minha formação participar em programas de estudo no estrangeiro financiados por organismos multi e bilaterais (ONU, Fulbright, British Council) - à semelhança do que hoje em dia acontece no âmbito do programa Erasmus+, e que penso ser essencial para a internacionalização do ensino e dos estudantes e outros profissionais portugueses, como aconteceu comigo.
2. Qual o contributo que pensa trazer para a Direção da AN E+ educação e formação?
Julgo que a minha experiência internacional e de gestão de projetos e setores poderá ser útil para o desenvolvimento do novo programa Erasmus+ em Portugal. Muito do que aprendi durante os anos que trabalhei em Bruxelas e em Washington DC pode ser aplicado a gestão da Agencia Nacional para melhorar o desempenho do programa Erasmus+ no país. Neste momento, a Agencia Nacional esta a adotar a gestão por resultados, ao mesmo tempo que iniciamos a simplificação administrativa, incluindo a desmaterialização de processos. Esperamos que estes dois aspetos da gestão da Agencia se venham a refletir num desempenho mais virado para os beneficiários e para o apoio a implementação dos seus projetos.
3. Qual o significado que o Programa Erasmus+ tem para si?
Penso que o Programa Erasmus+ é um dos principais contributos dos Estados Membros para construírem uma verdadeira União Europeia. Acho que este programa, alem de contribuir para a internacionalização dos sistemas educativos e de formação dos Estados Membros, através da mobilidade de estudantes e profissionais, e do estabelecimento de parcerias europeias e globais - é essencialmente um programa para "fazer" europeus: pessoas que se sintam tão à vontade a estudar, trabalhar e a viver em Portugal como na Finlândia, por exemplo. Note-se, no entanto que, apesar da importância crescente do programa, ele apenas fornece "seed funding" para a construção da União Europeia através da educação, formação, juventude e desporto. A maior parte do esforço para construir a União tem que continuar a ser feito pelas organizações sociais, pelas empresas, e pelos governos dos Estados Membros.
4. O Programa Erasmus+ é muito conhecido e tem tido sempre uma grande adesão nacional, qual é o impacto que considera que este Programa tem tido em Portugal?
Os dados que a Agencia Nacional tem sobre os resultados do programa mostram que as mobilidades de alunos e profissionais, e o estabelecimento de parcerias têm aumentado significativamente ao longo dos anos. O ensino superior tem sido o principal beneficiário do programa, mas a participação do ensino escolar, formação vocacional e educação de adultos tem vindo a aumentar, o que considero uma evolução muito positiva. Estudos da Comissão Europeia mostram um impacto muito positivo, especialmente do programa Erasmus para o ensino superior, na empregabilidade dos jovens que nele participam. No âmbito da gestão por resultados, a Agencia Nacional está a dar mais atenção à monitorização e avaliação e quer efetuar vários estudos, incluindo sobre o impacto que o Erasmus+ e o programa que o antecedeu, de aprendizagem ao longo da vida, têm tido no setor da educação e formação em Portugal.
5. Quais considera que serão os maiores desafios que o Programa terá até 2020 a nível nacional?
O maior desafio que temos é o do financiamento das candidaturas de qualidade que são submetidas anualmente. Apesar dos fundos do Estado português e da Comissão Europeia que a Agencia Nacional gere serem generosos, só conseguimos financiar cerca de um terço das candidaturas de boa qualidade que nos enviam anualmente. Encontrei um bom programa a funcionar com bons resultados, embora estejamos a fazer esforços para prestar um serviço melhor a todos os potenciais beneficiários - um vasto mercado que atualmente inclui todas as instituições que ensinam ou dão formação a jovens e profissionais em Portugal, desde as escolas aos centros de formação, de associações da sociedade civil a empresas do setor privado.
6. Quais os objetivos que gostaria de ver realizados até 2020?
Gostaria que o programa cumprisse os seus objetivos principais de contribuir para a internacionalização e a excelência do ensino e formação na União Europeia e em Portugal. O programa pode dar um excelente contributo para desenvolver o ensino pré-escolar, diminuir o abandono escolar, melhorar a formação profissional, aumentar o número de licenciados no país e na Europa, e aumentar a empregabilidade de jovens e adultos, entre outros objetivos, e com isso dar um impulso significativo para o crescimento económico, a inclusão e o bem-estar na União Europeia.